segunda-feira, 5 de abril de 2010

Totalmente bege e assustada

Tá, tá, eu sabia que esse dia ia chegar, mas aos dois anos de
idade????
Eu não tenho medo de acordar de noite; eu não tenho medo de birra;
eu não tenho medo de fralda cheia; eu não tenho medo das coisas que eu
não vou fazer enquanto meus filhos forem pequenos; eu não tenho medo do
que os outros vão pensar por eu isso ou aquilo, mas eu morro de medo da
adultização da infância.
Acho que um dos direitos fundamentais da criança, é o direito de ser
simplesmente criança. Isso é tão fundamental para a alma delas quanto
para seus corpos é indispensável o alimento, o agasalho e a higiene.
A adultização me amedronta. Dá calafrios, medo mesmo. Vontade de
chorar e de sair correndo. Aciona todos os meus instintos maternos. Faz
eu ter vontade de virar galinha e colocar meus pequenos embaixo das
asas, ou leoua, para enfrentar o mundo pelo direito deles à
infância.
Pois hoje veio a primeira. Hora de dormir, um dos momentos mais
íntimos aqui em casa, e EstÊvão solta: eu sou seu namorado, mamãe?^
Ahn??????? Cuma????? Antes de responder, perguntei, esforçando-me
para manter a voz uniforme: por que você está perguntando isso? Ele
respondeu: por nada.
- Aonde você viu isso?
- Nenhum lugar.
- Quem falou disso com você?
- Ninguém . QUem falou foi ninguém.
- Mas aonde você viu isso? - resistindo ao impulso de o sacudir,
para ver se a informação caía.
- Lugar nenhum.
*respira fundo e faz anotações mentais para ficar com os olhos bem
abertos*
- Você não é meu namorado, EstÊvão. Você é meu filho. Você é meu
filho, irmão da Mariles, neto da vovó e amigo da Tati e da Diva.
Pausa longa.
- Mamãe, quando eu vou namorar?
- O quê???
- Quando eu vou namorar? - destacando bem o "r" de "namorar".
- Quando vocÊ começar a ter barba, igual o papai. Aí vocÊ pode
namorar.
- Antes não pode?
- Não pode. Não é coisa de criança.

***

E aí talvez tenha quem diga "que mal tem ele fingir que tem uma
namoradinha na escola", ou alguma porcaria assim. Eu devolvo a questão
da seguinte forma: por que ele precisaria ter uma namorada, ou fingir
que teria uma namorada, aos dois anos de idade? Existe algum benefício
motor, psíquico, qualquer coisa assim?
Acho que, mais importante que brincar de namorar, é saldável ele
aprender a ser amigo.. Inclusive de meninas. Por que ele teria que ser
condicionado, desde os dois anos, a ver as meninas apenas como
namoradinhas em potencial?
Acho que respeito se aprende desde cedo, inclusive respeito às
minorias e ao sexo oposto. Relacionamento a dois, em qualquer nível, não
deve ser uma preocupação infantil. Eles vão ter a vida inteira para se
preocupar com isso.