domingo, 28 de junho de 2009

Tua falta

No final da gravidez, você passou a me "repelir". Não quer a mamãe, vai
embora, mamãe, e daí por diante.
Assim, perdemos o contato antes de dormir, um de nossos principais
momentos de interação. Em seguida, por questões físicas minhas e escolha
sua, afastamo-nos cada vez mais. Agora você raramente fala comigo e
raramente aceita minha presença quando tento aproximação. Eu tento não
chorar muito por causa disso, mas às vezes é difícil.
Deitada do seu lado, eu percebo as mudanças e me sinto de fora.
Enquanto isso, monta-se toda uma estrutura para que eu não precise me
ocupar de você após o nascimento imediato da Mariles. Entendo e permito
tais providências, porque temo não ter condições físicas, ainda, de
cuidar de você, mas emocionalmente eu me ressinto, como se, dessa
forma, pudesse ter ainda mais dificuldade em reconquistar o seu afeto
ou, ao menos, voltar a ser alguém a quem você recorra quando se machuque
ou quando conquiste algum marco com seus brinquedos.
Há sempre tanta coisa em que pensar e com que se preocupar, que
francamente não duvido que isso esteja atrazando o nascimento da
Mariles. Entretanto, renunciar a todos os planos de um nascimento
humanizado significará, para além de todo o mais, ficar mais tempo
incapacitada de me reaproximar de você.