quinta-feira, 24 de junho de 2010

Carta de seu pai

Guaxupé, 24 de junho de 2010,

Meu muito amado filho,

Não sou muito afeito à escrita, por isso quase sempre quem produz
cartinhas para você é sua mãe. Contudo, hoje ela me pediu que te
escrevesse e você também.
Vivemos uma fase plena de desafios, alguns bem grandes. Você há
quatro meses está na escola. Não é a ideal, porém é muito boa. Você
chega de lá feliz e é isso que importa. As pessoas te tratam com
respeito e carinho. Dói-me não poder te buscar e levar pessoalmente.
Hoje soube que, às sextas-feiras, você, desde o começo do ano, fica na
escola depois de acabada a aula por meia hora, esperando o transporte,
normalmente na companhia da diretora, mexendo em brinquedos ou
livrinhos. Isso me deixou triste. Pudéssemos eu ou sua mãe buscá-lo e
não seria assim. Aconteceu que, no início do ano, o rapaz que te
transporta disse que não poderia te pegar às 16h15min, horário de saída
às sextas, e deixou-se por isso mesmo. Hoje eu conversei com ele e
recebi a resposta de que é possível, sim, buscar você mais cedo. Assim,
a partir de amanhã, você, no último dia de aula da semana, passará a
chegar mais cedo.
Estamos em período de Copa do Mundo. Como você talvez já tenha
descoberto quando ler essa cartinha, é uma época especial, a única em
que esse povo nosso demonstra algum patriotismo. Você tem um uniforme da
seleção, dado pela sua avó Celeste. Seu pai tirou férias, especialmente
para ver os jogos, principalmente os das seleções estranjeiras.
Você tem se saído muito bem na escola. É elogiado por sua
inteligência, verdadeiramente espantosa. Tem uma memória fantástica, é
imaginativo, adora historinhas em áudio e vídeo. Com frequência, é
engraçado. Hoje falou: "Já pensou se eu subo no armário {o dos
brinquedos} e ele vira e cai em cima de mim e eu fico morto, já pensou?"
A sua mãe: "É, aí não vai ter outro Estêvão. E como é que a Mariles vai
ficar sem o Estêvão? Ela gosta muito de você." Você então: "Mas aí,
Jesus faz outro Estêvão. Tem outro Estêvão dentro do meu estômbago."
Sua fala já é quase perfeita. Consegue pronunciar encontros
consonantais difíceis, como dr e vr. Desenvolveu-se espantosamente
rápido. Andou tendo umas crises emocionais, mas, de umas semanas para
cá, tem estado muito calmo. Já acorda perguntando pela Mariles. Outro
dia, você disse: "Sabe quem é o amor da minha vida? É a Mariles."

Com imenso amor,

Papai