Nós deitamos juntos. Às vezes vocÊ bate os pés na cama com força.
Pouco tempo depois, começa a se qquietar. Pergunta coisas. Conta outras
mais. Pede historinhas - umas duas ou três. Algumas vezes, requisita o
ônibus de pelúcia, o traveceiro que sua avó deu, um copo de água, um
mamá, só para garantir. Em seguida, pede que eu te cubra. "Mamãe, cobe
eu?" E às vezes, é capaz de especificar: "mamãe, cobe meu baço.. " "Cobe
meu pé?" "Cobe meu ombo?". De algumas vezes, você canta. Canta a música
da barata, escravos de Jó e até inventa alguam coisa, de sua autoria.
Rezamos. Se você não faz a prece, está pronto para interferir, comumente
para lembrar alguém para quem esquecemos de pedir bênçãos: "bençoa a
Tati que machucou o dedo", você disse hoje. "Segula eu?" É o próximo
passo. Você está pedindo que eu o abrace, envolva mesmo.
A partir desse ponto, as conversas são mais amenas. Sua "pilha"
está, finalmente, sendo desativada, até que você para de falar e,
simplesmente, dorme.
àS VEZES EU ME EMOCIONO. Toco você, devagarinho. Sinto a testura
fina e suave dos cabelos, a fragilidade delicada das mãos flácidas, o
contorno dos ossinho por sob a coberta. Em silêncio, te agradeço por
estar vivo, simplesmente. Mais um dia termina. Quase nunca é fácil, mas
quase sempre é bom.
Pensem na morte. Nem sempre. Nem todos os dias. Não flertem com ela, que
isso ´mórbido. Mas considerem-na. Morrer faz parte da vida. Não é o
desejado, mas é ...
Há 13 anos