sábado, 12 de setembro de 2009

bebê cresceu

Definitivamente você cresceu, meu amor. Já come sozinho e passa a
maior parte do tempo de cueca, com poucos deslizes. Já fala muito bem e
consegue elaborar frases na ordem direta; não tem mais cara de bebê, mas
jeito de menininho. Pesa mais de 15 quilos, é arteiro como se fosse
dois. Enfim, aquela etapa passou. Terminamo-la juntos, e é interessante
observar como eu me sinto depois disso.
Estive contigo tanto quanto pude; busquei ser próxima, presente e
capaz de me superar; dei-te tudo de mim, tudo que eu era e tinha;
enxerguei cada desafio como um a dádiva e sua presença, como um presente
ao qual não era capaz de me acostumar. Mesmo assim, parece que faltou
alguma coisa. Parece que eu não vi quando os últimos traços do meu bebê
se foram, quando você deixou de ter os cabelos finos de um nenem e
adotou as mechas mais bastas de um menininho; parece que eu perdi o
desaparecer da sua última dobrinha, o espichar definitivo das suas mãos,
o alongar do seu crânio e dos seus traços. De algum modo, eu não vi.
Talvez tudo tenha acontecido enquanto minha barriga crescia e eu estava
exausta demais para ver a sério; talvez tudo tenha acontecido tão
devagar, que eu tenha me acostumado a cada mudança, sem atinar bem com o
seu significado. O fato é que você cresceu e, embora outras fases,
prenhes de desafios, oportunidades e testemunhos nos assenem desde já,
essa não volta nunca mais.
Uma porção de "devia ter..." me assombram às escondidas, enquanto
você me pede que te conte histórias e que te cante a mesma música umas
cem mil vezes.
Meu bebê cresceu e, aos dois anos, quer me ajudar a cuidar do nosso
outro nenem. Ele quer músicas, quer sacolas, quer carrinhos, quer
bolinhas de nescau, quer comer tudo para ganhar sua sobremesa favorita.
Ele quer correr, já anda de bicicleta, já tenta subir nas coisas usando
outras como escada, já cantarola sem jeito pela casa, já se atira no
chão quando não tem o que foi pedido.
Nisso tudo eu continuo, na retaguarda e na tua frente, ohando,
observando, corrigindo, estimulando, apoiando, desincentivando...
Enquanto os últimos farrapos do bebê que você foi ameaçam deixar, para
sempre, o palco das minhas memórias.