Você fará um ano em breve. O quarto de hóspedes está ocupado por uma
grande caixa contendo boa parte dos itens de sua festinha. Os convidados
não serão tantos, mas serão bem-vindos. Pensei em proporcionar que eles
escrevessem algo, nem que fosse seus nomes. Fico me perguntando quando
você lerá isso pela primeira vez. Gostaria de esperar um tempo, bastante
tempo. Acabo fantasiando sobre como estará o mundo, quando você puder
ler e entender essas palavras. Em que o homem terá evoluído em matéria
de auto-destruição e de amor ao próximo.
Em tempo, muitas vezes te imagino bem maior e, até, com algumas
afinidades semelhantes as minhas. Embora tentador, sou bastante
econômica nesses devaneios. Não quero te idealizar. Quero que você tenha
espaço para ser exatamente o que é. Nutro, entretanto, o desejo
incontrolável de poder semear na sua o melhor de minha própria
essência... O melhor dos ideais mais sagrados, das impressões mais sutis
e de toda sabedoria que algum dia houver passado por mim.
Espero ter capacidade para fazer isso. Não obstante hesite bastante
em idealizar teus gostos mais pessoais, não me pejo minimamente em
esperar e torcer para que você seja um homem de bem. Esse, portanto, é o
meu principal objetivo, o único sonho que gostaria que realizássemos
juntos.
Gostaria de tentar educá-lo sob os ensinamentos do nosso Mestre dos
Mestres, de plantar em você as sementes de um respeito imperecível por
si mesmo e por qualquer coisa viva que tenha diante dos olhos, a firmeza
de caráter necessária que te faça ter a coragem de enfrentar o mundo
cara a cara, lúcido, sereno, sem medo da dor, das conseqüências de amar
verdadeiramente e da incompreensão.
Houve um tempo, meu amor, em uma idade cronológica que espero que
você vivencie sob provações bem menos ásperas que as minhas, em que a
única coisa que tinha eram meus ideais e minha fé no Cristo. Mesmo
tendo sido tempos indiscutivelmente rudes, foi uma época de muito
crescimento e, sobretudo, de uma união sagrada entre mim e Deus, entre
mim e os valores mais santos da minha infância. E, embora deseje
profundamente que você jamais se defronte com as mesmas situações que
eu, estou certa de que sua vida não será fácil, tal como acontece às
vidas de todos na Terra. Assim, esse será nosso maior legado, nosso
principal anelo.
Hoje você é uma coisinha alegre e destemida, que morde as nossas
roupas e segura em nossos dedos para andar. Confiante, afável, terno,
carinhoso, barulhento e ativo. Está ansioso para aprender a andar, e
hoje mesmo pôde partir de sua caixa de brinquedos, sem incentivo, e dar
uns poucos passos na direção do pai. Tem oito dentinhos pequenos e
perfeitos, e uma cabecinha repleta de cabelos felpudos e suaves. Tem um
machucado no dedo que não sabemos exatamente como foi feito, e o hábito
de sorrir para tudo e para todos.
É, portanto, seu primeiro aniversário. As sacolas serão do Nemo e a
maior parte das coisas terá um azul claro. Haverá ainda um painel
contendo suas fotografias até aqui, cujo álbum, espero, resista até o
momento em que você lerá esta carta.
Os dias preparam-se para a chegada do inverno e sua mãe, embora se
sinta quase todo o tempo triste demais, encontra em você, no seu pai e
na oração, consolos infalíveis. Sou muito grata a vocês por isso,
sobretudo a você, meu amor.
QUando você vem de preça e me abraça, ou joga os braços para vir a
meu colo, honestamente te estreito e penso: ah, meu Deus, ele não
sabe.... Não sabe quanto ele significa, não sabe quão desafiador, penoso
e magnífico foi chegarmos até aqui, não sabe a dádiva celeste que ele é,
talvez nem saiba da força que nos infunde, pelo simples motivo de
permanecer vivo.
Agora, porém, você sabe. O que quer que aconteça depois, aonde quer
que a vida nos prove, você saberá, agora, quanto foi amado, desejado e
querido, desde antes mesmo de ser concebido.
VocÊ foi a apoteose dos sonhos que sonhávamos quando separados por
um milhar de quilômetros, sete anos atrás.
Para terminar, gostaria de te oferecer uma mensagem realmente
singela, mas que, creio, seja de grande valia.
Meu carinho, meu amor, meu respeito e meus melhores objetivos, hoje
e sempre,
Sua mãe,
Joyce Fernanda Martins Guerra
EM PREPARAÇÃO
``Diz o Senhor: Porei as minhas leis no seu entendime n-
to e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por
Deus e eles me serão por povo.'' -- Paulo. (HEBREUS,
CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 10.)
Traduziremos o Evangelho
Em todas as línguas,
Em todas as culturas,
Exaltando-lhe a grandeza,
Destacando-lhe a sublimidade,
Semeando-lhe a poesia,
Comentando-lhe a verdade,
Interpretando-lhe as lições,
Impondo-nos ao raciocínio,
Aprimorando o coração
E reformando a inteligência,
Renovando leis,
Aperfeiçoando costumes
E aclarando caminhos...
Mas, virá o momento
Em que a Boa Nova deve ser impressa, em nós mesmos,
Nos refolhos da mente,
Nos recessos do peito,
Através das palavras e das ações.
Dos princípios e ideais,
Das aspirações e das esperanças,
Dos gestos e pensamentos.
Porque, em verdade,
Se o Céu nos permite espalhar-lhe a Divina Mensagem no
mundo,
Um dia, exigirá nos convertamos
Em traduções vivas do Evangelho na Terra.