Estamos há menos de um mês do seu segundo aniversário, meu amor. Os
dias têm sido modorrentos, comigo exausta, você se recuperando de uma
virose, seu pai exaustíssimo e a moça que nos auxilia também passando
por incômodos físicos consideráveis.
Entrementes, sim, venho dizer que você dá trabalho. E muito.
Muitíssimo. Não me refiro aos gritos, à obediência que muitas vezes vem
menos rápida que nossa vontade, ao fato de ter entornado um pote de
toddy em si e no chão da casa de seus tios mais chegados. Menos ainda me
refiro às febres, às tosses eventuais, aos desafios inerentes de se
cuidar de uma criança tão pequena.
O trabalho que você me dá transcende todos esses marcos, de modo que
eles se tornam pequeninos pontos diante dos fatos reais. Você é, como
creio já ter dito, o professor mais paciente e mais exigente que poderia
ter. A lágrima de frustração rapidamente se torna lágrima de alegria de
recomeço, e cá estamos nós, unidos, afinal, por laços cada vez mais
fortes, porquanto flexíveis. Seus dedos nos meus, exigindo o que
aparentemente não posso dar, empurrando-me para além de mim, forçando
seu pai e eu a ultrapassar nossos limites para ser cada vez mais, por
você e em nome do Cristo, afim de levá-lo a cada uma de suas reintrâncias
morais e psíquicas.
O desejo de fazer de você um homem integral, com coragem e
dignidade, respeito e fortaleza, Cristo e espiritualidade, na acepção
mais pura, intensa e irrevogável do termo, faz que precisemos nos
reformar para te conduzir, nos desvelar para infundir em seu espírito as
linhas do Evangelho a ferro e fogo de testemunhos.
E, sim, isso dói. Dá trabalho. Crescer, expandi nosso esforço
máximo até as vias do insuspeitável exige um empenho de humildade e
determinação, caráter e percepção que outrora não nos julgávamos
capazes.
Mas por amor seu pai e eu nos unimos, e foi por amor que te
trouxemos para o palco dessa existência, e é por amor que estamos
contigo, dia após dia, optando sempre pelo mais proveitoso em lugar do
mais fácil.
Nós te amamos e te somos eternamente gratos por tanto "trabalho".
Pensem na morte. Nem sempre. Nem todos os dias. Não flertem com ela, que
isso ´mórbido. Mas considerem-na. Morrer faz parte da vida. Não é o
desejado, mas é ...
Há 13 anos